Projeto “Do Graffiti às Passarelas” apresenta coleção “Beirada” em desfile no Ateliê Trama

 Iniciativa com alunos do CMPM VI transforma referências da Amazônia urbana e do ritmo Beiradão em moda, audiovisual e formação criativa


O projeto “Do Graffiti às Passarelas” chega à etapa final com o lançamento da coleção “Beirada” e a exibição do fashion film homônimo no dia 15 de novembro, às 18h30, no Ateliê Trama, em Manaus.

Idealizada pela artista visual e produtora Wira Tini, a iniciativa convida jovens do Colégio Estadual Evandro das Neves Carreira (CMPM VI), no bairro Viver Melhor, a vivenciarem um percurso formativo que une moda, arte urbana e audiovisual. Por meio de editais e parcerias locais, o projeto ofereceu oficinas de grafite, design, passarela e produção de vídeo, resultando em uma coleção autoral inspirada na Amazônia urbana e no ritmo Beiradão, estilo musical característico das comunidades ribeirinhas.

“As referências maiores foram as tiras que representam as ornamentações feitas pelas comunidades ribeirinhas da Amazônia para ‘festas de santo’, onde toca-se o estilo musical do Beiradão na maioria das vezes. E as peças têm um apelo de movimento e dança. As tiras, saias e vestidos com volumes fluidos, são ao mesmo tempo elegantes e confortáveis para o clima que vivenciamos. Isso tudo remete ao calor, agito e movimento do dançar beiradão”, explica Wira.

A coleção “Beirada” materializa em tecido, textura e fluidez a estética das margens dos rios amazônicos. A canoa, o reflexo das águas e a energia das festas populares aparecem reinterpretados nas estampas e volumes, com uma proposta que valoriza a leveza, o movimento e a pluralidade dos corpos.

Segundo Wira, o processo também despertou nos estudantes o entendimento sobre o trabalho coletivo na moda. “Foi uma ‘experimentação’ incrível, os alunos estavam muito dispostos a aprender. E embarcaram na ideia, desde a concepção, o editorial e até o fashion film. Perceberam que trabalhar com moda é uma profissão de muitas mãos, de uma certa forma, comunitária”, ressalta.

O desfile do dia 15 marca a conclusão do ciclo formativo, onde os alunos assumem a autoria das peças e a performance na passarela. O evento celebra tanto o resultado estético quanto a jornada de aprendizado construída ao longo das oficinas.

Fashion Film: Beiradão como travessia e identidade

Além do desfile, será apresentado o fashion film “Beirada”, dirigido por Wira e equipe, com participação dos alunos e da modelo amazonense Gabriele Moraes.

Gravado no Porto de Manaus e nas balsas que conectam as margens da cidade, o filme explora a ideia de travessia entre o interior e o urbano, trazendo o Beiradão como pulsação visual e sonora da narrativa.

“A proposta do fashion film é como se as modelos, que são as alunas e mais a Gabi, tivessem vindo mesmo do interior. A gente gravou no porto, dentro dos barcos. A intenção é mostrar que eles estão vindo do interior, e o ritmo Beiradão vem junto com essa coleção — trazendo a força da floresta, dos povos ribeirinhos e indígenas, das festas populares e católicas que a gente tem. Essa força está vindo pra cidade junto, nessa forma de arte”, conta Wira.

Segundo ela, o filme amplia o alcance do projeto. “Ele contribui porque vai deixar essa mensagem. Quem vai estar no desfile vai ver as peças pessoalmente, mas quem não estiver vai ver o filme e entender a história. É uma forma de registrar e compartilhar tudo o que o projeto construiu. O público pode esperar uma experiência muito boa, pelas cores, pelo porto... quem é daqui vai sentir a energia. Quem já viajou de barco para Manaus vai se ver nos modelos”, destaca.


Impacto social e valorização cultural

“Do Graffiti às Passarelas” nasceu para aproximar jovens da periferia das práticas artísticas e das possibilidades profissionais do setor criativo. Wira reforça que o projeto também busca ressignificar a percepção sobre o bairro Viver Melhor.

“Quando muitas pessoas falam no bairro Viver Melhor, elas têm um pensamento muito negativo. A intenção do projeto é que as pessoas possam olhar e ver que, em todos os lugares, tem coisas negativas, mas também tem muitas coisas positivas, muitos jovens talentosos e pessoas incríveis. Que a sociedade possa ver esses adolescentes como protagonistas, como capazes de fazer coisas incríveis”, afirma.

A artista destaca que o objetivo é seguir expandindo o projeto para outras escolas, mas ressalta a importância do apoio público e privado. Para ela, a coleção e o filme representam um marco para a moda amazônica.

“Vai ser a primeira coleção de moda voltada especificamente pro Beiradão. A gente está começando a ter uma valorização desse ritmo, que está aqui há mais de 50 anos e nunca teve nada de arte visual ou palpável que o representasse. É a primeira vez que isso acontece”, finaliza.
O projeto é realizado com apoio do Governo Federal e Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e do Conselho Estadual de Cultura.


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