Aglomeração Literária’ realiza oficinas gratuitas de poesia slam, contação de histórias e escrevivências em cinco Municípios do Amazonas
Os municípios de Rio Preto da Eva, Iranduba, Manaus, Novo Airão e Coari, recebem no período de julho a setembro, atividades gratuitas do projeto ‘Aglomeração Literária: Palavrartes em Move-Mente’, idealizado pela atriz, arte-educadora, articuladora cultural e pesquisadora Jackeline Monteiro, em parceria com o grupo de arte e cultura Allegriah.
O objetivo do projeto é o fortalecimento da expressão artística, da escuta sensível e da valorização das narrativas (auto) biográficas no contexto Amazônico, através da realização de oficinas de contação de histórias e criação de poemas do tipo Slam, que entendem a literatura como invenção territorial, social e cultural, com forte poder de transformar histórias e reescrever futuros, através de trocas afetivas potentes, espaços de cura e acolhimento.
Ao todo, cerca de dezoito profissionais das áreas da literatura, teatro, educação, pedagogia e música, além de produtores culturais locais e monitores aprendizes estarão diretamente envolvidos no processo de produção e execução das atividades e oficinas.
O projeto ‘Aglomeração Literária’ conta com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Governo Federal, Política Nacional Aldir Blanc – Segmento Literatura, Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Escola de Egressos, Grupo de pesquisa Vidar em In-tensões, Curso de Teatro da Escola Superior de Artes e Turismo (ESAT), Grupo Formas em Poemas e Associação dos Escritores do Amazonas.
Como tudo começou
“Quando veio a pandemia, fomos proibidos de nos aglomerar, então nasce o “Aglomeração Poética”, período em que conheci a obra “Eu tenho sérios poemas mentais” de Pedro Salomão. Naquele momento, a literatura se tornou a minha amiga mais íntima, pois consigo acessar a minha introspecção e brincar com as palavras e a vida. Desde lá, não parei mais de escrever.
Em 2022, fomos apresentados a um projeto da UEA chamado “Educação Inclusiva para Dependentes Químicos: Políticas públicas em favor da vida”, coordenado pela profª Drª Osmarina Lima, realizado no centro de reabilitação Ismael Abdel Aziz (CRDQ), ali foi uma oportunidade de transbordar o meu sentir para o contexto formativo, com as primeiras oficinas de criação de poemas e fanzines no contexto da educação inclusiva para e com os adictos em recuperação”Conta a idealizadora do projeto Jackeline Monteiro.
Primeiras Oficinas
O Lar terapêutico Ágape, localizado na Zona Rural de Iranduba e o Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz (CRDQ) no município de Rio Preto da Eva, foram os dois primeiros locais escolhidos para receber as oficinas de ‘Contação de histórias’ e ‘Criação de poemas’ dos arte-educadores Vitor Lima, Deihvisom Caelum, Jackeline Monteiro, Stivisson Menezes, com participação especial do poeta Ernan Passos, da atriz Neuriza Figueira e da Escritora e Comunicadora Aritana Tibira.
“Minha metodologia é construída a partir da ideia de uma arte da vida, onde a literatura não se limita à leitura tradicional, mas se expande na leitura de mundo, nas narrativas pessoais, na escuta sensível, no acolhimento e nas múltiplas linguagens artísticas que se entrelaçam com o viver.O corpo, o som, o silêncio, a poesia, o desenho, os gestos, tudo é matéria para narrar a vida. E acredito que esse é o papel mais bonito da arte: lembrar que ainda somos humanos, que ainda somos sensíveis, e que ainda podemos mudar o curso da nossa própria história.” Destaca Vitor Lima.
E continua…
“No Ágape, trago a contação como uma escuta ativa da própria existência. Trabalhamos o corpo como instrumento de narrativa, onde a história se desenha a partir das memórias, dores, sonhos e esperanças. Já no CRDQ, desenvolvo um percurso mais voltado à expressão poética, à escuta coletiva e à ressignificação do passado por meio da arte da palavra dita e sentida.” Explica Vitor.
“Como poeta, com alguns livros já publicados, passei anos acumulando textos que nasceram de diversas situações, e desenvolvi alguns métodos específicos para a criação poética, pensando especialmente nesse público. Um desses métodos é o que chamo de "Psicoesia". Nele, observo o grupo, analiso comportamentos, processos mentais, perfis individuais, como pensam, sentem, aprendem, se relacionam e se comportam dentro desse contexto. A partir dessas percepções, dou início a um trabalho que estimula a mente dessas pessoas a se movimentar em direção à criação artística.”Afirma o poeta, escritor e arte - educador Deihvisom Caelum.
Convidados especiais
“É sempre muito interessante pensar como a literatura pode ser utilizada como uma ferramenta transformadora, onde pessoas de diversos lugares, de diversos recortes sociais, raciais e de identidade podem escrever. E quando essa escrita vem de lugares que, por vezes, são invisibilizados, quando essa escrita vem da margem, ela é ainda mais potente”. Declara Aritana Tibira, Escritora, Comunicadora e Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Amazonas.
“Eu trabalho com a contação de histórias, e no CRQD optei pelas nossas lendas amazônicas, mais especificamente, a lenda da Vitória Régia e a lenda da cobra Honorato e Maria Caninana. Grandes clássicos da nossa cultura Amazônica. E nossa! Deu pra sentir o quanto eles gostaram, se identificaram com a oficina e abraçaram não só o projeto, como toda a equipe. Muitos comentaram até que voltaram a ser crianças, e que era como se tivessem ouvindo a própria mãe contando histórias. Foi um momento muito bonito e especial! E isso é a contração de histórias, né?! Ela realmente mexe com as emoções, com o imaginário, com criar, com o sentir… Ao longo de todo aquele dia ali, eu ouvi cada relato lindo…Eles escreveram bastante também… E cada poema que saía ali, era possível ver a alma escrita, de cada um deles…Foi quase impossível segurar a emoção” Declara emocionada, a Atriz Amazonense, Neuriza Figueira.
“Ao longo de todo o período das oficinas, nós nos descontruímos e reconstruímos, a todo momento. O projeto foi fundamental, agregou muito pra gente, fomos descobertos em questão de talento. Quem diria que o Jean, totalmente introspectivo, se tornaria um poeta, que escreve lindos versos, estrofes e poemas maravilhosos e retrata a dor de cada um aqui dentro…Eu me identifiquei muito, chorei com ele, era um cara muito fechado…Eu já fui diagnosticado com muitas patologias comportamentais, mas Deus tem me reestruturado e reestruturado os meus sonhos. Foi maravilhoso estar com a Jacke, o Vitor, e toda a equipe do projeto, quebramos vários estigmas, aprendemos muito, confraternizamos, recebemos o nosso certificado…foi uma experiência incrível e muito significativa, fica aqui a minha gratidão.” Compartilha, Ralei Melo, 39 anos, interno do Lar Terapêutico Ágape.
Inspirações literárias
Uma das referências literárias que está sendo utilizada como inspiração nas oficinas é o livro "Introspecção: Da natureza à arte ancestral" da idealizadora do projeto, Jackeline Monteiro. A obra explora a relação entre a natureza, a ancestralidade e a arte, com foco na mulher negra e afro-indígena, e na resistência e transformação social. A autora, que também é arte-educadora, compartilha em seus poemas suas vivências na floresta amazônica, em projetos de arte e em espaços de aquilombamento, buscando uma conexão com suas raízes e a cultura ancestral. Além da obra de Jackeline, autores brasileiros como Ailton Krenak e Conceição Evaristo também estão presentes na montagem e desenvolvimento das oficinas do projeto.
Um território de identidade, voz e resistência: A ‘Poesia Slam’
A poesia slam é um tipo de linguagem que valoriza muito a voz e o corpo do poeta, muitas vezes abordando temas sociais e políticos de maneira intensa e engajada, atuando como uma ferramenta de expressão, força, resistência e empoderamento. E não por acaso, esse tipo de poesia foi escolhida para ser incorporada às oficinas do projeto ‘Aglomeração Literária’.
“Contar histórias, para nós, é mais que narrar, é en-cantar. Criar poemas é mais do que escrever, é semear memórias no corpo do tempo. Tecemos, assim, nossas oficinas como quem borda oralitura, entre palavra e corpo, entre poesia e chão. Acreditamos que a arte e a literatura, é um gesto poético e político, capaz de ser lugar de resistência, cura e de memória inventiva. Por isso, adaptamos a linguagem ao contexto, olhamos para cada público como quem escuta um rio, cada um tem seu curso, sua força e sua história.” Destaca Jackeline Monteiro.
Para somar forças ao processo criativo e desenvolvimento das oficinas, a música também se faz presente no projeto, através da participação do músico, percussionista e pesquisador Stivisson Menezes:
“ Recebi da Jacke, o desafio de propor uma oficina de experimentação poética em “corpo-sonoridade”a partir de narrativas literárias, e fiquei fascinado. porque isso casa perfeitamente com as minhas pesquisas e investigações sobre corpo-mente; ritmicidade; som e palavra; corpo-tempo-espaço; pulsações e andamentos.
Participar do ‘Aglomeração Literária’ tem me proporcionado, entre tantas coisas, refletir bastante sobre outros modos inventivos de arte- educação, através não só da música mas também do teatro, da literatura, entre outras linguagens (...) tem sido muito especial para mim, poder me reconhecer em muitos lugares de afeto e evolução, afinal, eu também sou fruto dessas mesmas relações culturais, educativas e de transformação social. Por tudo isso, estou muito feliz de participar do projeto, e mais do que compartilhar conhecimentos e experiências, aprender.” Declara o músico e pesquisador Stivisson Menezes.
Parceria Institucional e Afetiva
Uma das parcerias substanciais para o sucesso do projeto ‘Aglomeração Literária: Palavrartes em Move Mente`, principalmente, nesse primeiro ciclo de oficinas, é o apoio da Escola de Egressos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), através da Profª Drª Osmarina Lima, Docente e Gestora de projetos da Universidade:
“Esse projeto é a prova de que parcerias intersetoriais podem gerar resultados consistentes, duradouros e super interessantes. Nessa perspectiva, penso que a Escola de Egressos tende só a se fortalecer ao participar de um projeto dessa natureza, intervindo em espaços não escolares de vários municípios do AM, por meio de ações socioeducacionais capazes de universalizar o aprendizado, a divulgação e a valorização de novos talentos na área da literatura.” Afirma a professora Osmarina Lima, que também ressalta outros pontos positivos do projeto:
“Um dos destaques do ‘Aglomeração Literária’ é a participação de monitores aprendizes. Essa formação de agentes multiplicadores no âmbito da fotografia, da produção cultural e demais atividades desenvolvidas durante o projeto, isso, inclusive, evidencia seu caráter inovador e inclusivo. Principalmente porque, além de Manaus, também alcança pessoas do interior do Estado, onde essas iniciativas são escassas. O projeto também oferece aos alunos espaço/tempo para a criação e efetivo protagonismo, valorizando-se a escuta sensível e os desdobramentos de ações individuais/coletivas que cada oficina desperta nas turmas, e o resultado disso, é a participação da maioria dos internos das instituições, independentemente de escolaridade e tipo de adicção, além da identificação de líderes que replicarão as oficinas nas instituições e em suas comunidades, além da busca por qualificação profissional após o período de internação.” Conclui a professora.
A idealizadora do projeto, Jackeline Monteiro, também destaca a relação de afeto e gratidão que tem com a Universidade, ao longo de toda a sua trajetória acadêmica e formativa:
“Desde a graduação em Teatro, participei de diversos projetos de extensão que ampliaram minha visão de mundo e atuação artística.Das cinco localidades por onde nosso projeto está passando e ainda vai passar, todas as articulações nasceram das parcerias que construí dentro da UEA. Sou profundamente grata à Universidade por cada encontro, por cada escuta e por todas as aprendizagens que têm atravessado minha caminhada. Em cada travessia, sigo tecendo saberes, afetos e parcerias que nasceram desse chão fértil de possibilidades.” Declara Jackeline.
Balanço Geral sobre a primeira fase
“Me sinto totalmente contemplada com essa primeira etapa do projeto, confesso que superou as minhas expectativas. Durante cada encontro, mesmo sabendo que há a questão da rotatividade de internos, nossos objetivos foram alcançados. Vale ressaltar que esse tipo de trabalho é raro por conta dos preconceitos que há em nossa sociedade, porém, encerramos com o coração grato. O sarau confirmou tudo o que construímos durante os encontros. Tem uma citação de um teatrólogo e poeta Alemão chamado Bertolt Brecht que eu amo muito, que diz que “o amor é a arte de fazer algo com a ajuda da capacidade do outro” ou seja, tudo é coletivo! Eu acredito muito nisso!”Ressalta a idealizadora e coordenadora do projeto Aglomeração Literária Jackeline Monteiro.
O movimento literário continua…
Após a realização das oficinas nos municípios de Iranduba (Lar Terapêutico Ágape), Rio Preto da Eva (CRDQ) e Manaus (Centro Espírita Casa do Caminho), ainda no mês de agosto, o projeto ‘Aglomeração Literária’ segue para Novo Airão (‘A terra dos botos’). No município, as oficinas serão realizadas nos dias 15 (14h às 17h) e 16 de agosto (09h às 12h) na Fundação Almerinda Malaquias, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) que atua há 25 anos com ênfase na educação e na transformação social, comprometida na promoção e geração de renda, educação ambiental, a sensibilização quanto ao uso sustentável dos recursos naturais, orientação e formação profissional.
Sarau de encerramento em Novo Airão
Ainda no dia 16 de agosto, a partir das 18h00, o Parque Pinheiral, situado na Avenida João Tiburtino da Silva, recebe o sarau de encerramento das atividades do projeto no município.O acesso é livre e totalmente gratuito.
Agenda de oficinas do projeto ‘Aglomeração Literária: Palavrartes em Move-Mente’
Agosto
Centro Espírita Casa do Caminho, Rua Professora Francelina Dantas, número 182, Nova Cidade, Manaus, 02 de Agosto a 07 de Setembro, todos os sábados, a partir das 14h00.
Setembro
Realização de oficina no período de 03 a 05 de setembro no município de Coari
Outubro
Encontro de Contação de Histórias, 26 de Outubro, Manaus.
A importância da Política Nacional Aldir Blanc para a realização de projetos como o Aglomeração Literária
“A chegada da Política Nacional Aldir Blanc representa para nós, um verdadeiro divisor de águas para o nosso estado, especialmente para quem vive exclusivamente da arte e da produção cultural, pois é através desses recursos que muitos artistas, trabalhadores da cultura em geral, podem manter seus trabalhos vivos.E foi pensando exatamente nisso, que decidimos criar estratégias que ampliem o impacto da PNAB para além da contemplação direta, optando por convidar, em cada município, produtores e artistas locais para integrar nossas ações, como uma forma de descentralizar os recursos, fortalecer as redes locais e permitir que a política alcance outros corpos, vozes e territórios. Vida longa à PNAB!” Destaca Jackeline Monteiro.
Serviço
O quê: Oficinas do projeto ‘Aglomeração Literária: PalavrArtes em Move-Mente’
Quando: Julho a Setembro
Onde: Manaus, Rio Preto da Eva, Iranduba, Novo Airão e Coari
Informações e solicitações de entrevista: (92) 98258-9133- Wanessa Leal (Assessoria de Imprensa)
Salve essa Data
O quê: Encontro de Contadores de História do Amazonas
Quando: 23 de Outubro
Redes Sociais
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